Nem tudo está perdido: áreas de caatinga submetidas a perturbações crônicas ainda abrigam comunidades vegetais bem preservadas. Essa é a conclusão tranquilizadora de um estudo realizado no Brasil por cientistas brasileiros e franceses (UMR ISEM) e publicado no Journal of Arid Environments.
Nosso objetivo foi avaliar o estado atual da vegetação em três áreas altamente degradadas em processo de desertificação no Ceará e determinar se há algum potencial de regeneração natural.
Um ecossistema afetado pela atividade humana
A caatinga?Caa = madeira, vegetação + tinga = branco ou seco / na língua ameríndia é um ecossistema caracterizado por uma vegetação de árvores de folhas caducas?que caem durante a estação desfavorável e muitas vezes espinhosas, adaptadas a regiões áridas, como o Sertão do nordeste do Brasil. Desde a chegada dos europeus, esses territórios estão sujeitos a distúrbios crônicos ligados a atividades humanas, como o extrativismo?modo de extração irreversível de recursos naturais, a pecuária e as práticas agrícolas que não são adequadas ao meio ambiente. Essa pressão constante leva à degradação do solo, à homogeneização da vegetação e à perda da biodiversidade. Combinada com altos níveis de aridez, essa situação levou muitas regiões com climas semiáridos a perder sua capacidade de produzir alimentos e pastagens, dando início a um processo de desertificação. Com sua baixa biodiversidade, essas áreas são frequentemente negligenciadas em estudos florísticos e fitossociológicos?estudo de comunidades vegetais. Convencidos de que seu potencial biológico estava subestimado, os autores do estudo realizaram uma avaliação do estado da vegetação em três locais severamente degradados em processo de desertificação no Ceará?Estado do Brasil localizado no norte da região Nordeste para determinar se há algum potencial de regeneração natural.
Avaliar o estado atual da vegetação
"Para caracterizar o grau de degradação em nossos três locais de estudo", explica Marie-Pierre Ledru, palinologista e paleoecologista da UMR ISEM, realizamos levantamentos botânicos detalhados em 36 parcelas, totalizando mais de três hectares". Com seus colegas brasileiros da JEAI SANA, ela contou e mediu amostras de árvores e arbustos e definiu três níveis de degradação da vegetação: aberto (muito degradado), intermediário e fechado (pouco degradado). Esse estudo também se beneficiou da estrutura oferecida por um projeto de excelência - IN-TREE - apoiado pelo Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia (INCT). Desenvolvido anteriormente pela equipe franco-brasileira, um indicador de áreas com vegetação degradada foi baseado na predominância de uma espécie de leguminosa - Mimosa tenuiflora - no pólen encontrado em locais no Ceará, combinado com o nível de degradação da vegetação, baseado na análise de imagens de satélite.
Destacando o potencial biológico negligenciado
Como era de se esperar, o nível aberto, que foi o mais afetado pela atividade humana, apresentou menor riqueza de plantas, densidade, biomassa e altura do que os outros níveis. Por outro lado, a vegetação intermediária e fechada, que predominou na área de estudo, não apresentou diferenças significativas entre si ou com as áreas de caatinga fora dos centros de desertificação. "Concluímos que mesmo as áreas severamente degradadas tinham um alto potencial biológico devido à presença de remanescentes preservados atuando como reservatórios para manter a diversidade e a estrutura da vegetação da região", diz Francisca Soares de Araújo, professor de biogeografia da Universidade Federal do Ceará. Portanto, a diversidade residual de áreas em vários estágios de degradação pode ser suficiente para reverter a tendência atual. Desde que criemos unidades de conservação para sua preservação futura, ou cultivemos espécies adaptadas ao solo e ao clima do semiárido que levem em conta o aumento da temperatura e a redução das chuvas previstos pelo GIEG.
Publicação: Macêdo MS, Menezes BS, Ledru M.-P, Mas J-F, Kelly FGS, Carvalho CE, Costa RC, Zandavalli, RB, Soares AA, Araújo FS (2024) Everything's not lost: caatinga areas under chronic disturbances still have well-preserved plant communities. Journal of Arid Environment 222. doi.org/10.1016/j.jaridenv.2024.105164
Contatos ciências : Marie-Pierre Ledru, IRD, ISEM marie-pierre.ledru@ird.fr
Francisca Soares de Araújo, Université Fédérale du Ceará (Fortaleza, Brésil) tchesca@ufc.br
Contato comunicação: Fabienne Doumenge, Julie Sansoulet communication.occitanie@ird.fr