A UFRJ organizou a grande conferência anual da SASE (Society for Advancement of Socio-economy), intitulada “sócio-economia num mundo em transição no Rio de Janeiro: romper as linhas e os paradigmas alternativos para uma nova ordem mundial”, no Rio de janeiro de 20 a 22 de julho. 

A conferência contou com a participação de 900 pessoas de diferentes continentes e países. Entre os organizadores da SASE estava Marta Castilho, parceira institucional (UFRJ) e coordenadora da JEAI. François Roubaud e Mireille Razafindrakoto (IRD DIAL) apresentaram dois painéis sobre o tema da COVID e os trabalhadores de plataforma.

 

  • Formal ou informal: Questionamento das fronteiras. Visão geral da economia das plataformas no Brasil

Participante / Valeria Pero

Universidade Federal de Rio de Janeiro, Instituto de Economia (UFRJ/IE), Brasil

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Desde meados da década de 2010, as plataformas ganharam espaço no Brasil, um dos países mais conectados (aplicativos, redes sociais) do mundo. Embora ainda seja possivelmente marginal em termos quantitativos, os empregos gerados pelas plataformas registraram um crescimento impressionante. De modo mais geral, essa nova forma de trabalho faz parte de uma reconfiguração do mercado de trabalho brasileiro, no qual os limites entre formalidade e informalidade se tornaram indistintos, em um cenário de crises duradouras que foram exacerbadas pela pandemia da COVID-19.

No entanto, apesar de uma literatura emergente no Brasil e no exterior, ainda há enormes lacunas no conhecimento sobre essas questões, a começar pela simples quantificação do fenômeno.

Este painel reunia equipes de pesquisa de diversas disciplinas (antropologia, economia, direito, ciência política, sociologia e estatística), incluindo alguns dos maiores especialistas do Brasil, reunidos pela primeira vez. A proposta era comparar pontos de vista e abordagens a fim de identificar pontos de convergência, controvérsias e áreas cinzentas, e identificar temas que possam estruturar o futuro programa de pesquisa sobre essas questões, com possíveis implicações políticas, em um momento em que o novo governo brasileiro está considerando as melhores formas de regulamentar esse setor.

  • Resiliência e soluções pós-pandemia:  mudança do formal para o informal e a digitalização da economia em resposta à pandemia da COVID-19 (exploração de evidências com base em estudos de caso).

Participante : Joao Saboia, URFJ, Brasil

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O painel era baseado em seu projeto recém-lançado: Comunidades resilientes após a pandemia: a economia informal é um reservatório para a próxima geração de empresas digitais e ecológicas no Sul? O projeto e o painel se concentraram nos ajustes pós-Covid que levaram a um aumento de trabalhadores precários e informais em todo o mundo.

Na verdade, além dos quase 2 bilhões de trabalhadores já ativos no setor informal, o Banco Mundial e a OIT estimam que a pandemia poderia ter colocado em risco mais 500 milhões a 1,5 bilhão de pessoas em empregos precários. Essas perdas e as consequências resultantes não são distribuídas de maneira uniforme, uma vez que a África, a Ásia e a América Latina são os países onde 93% dos empregos informais do mundo estão localizados e onde a crise pós-pandemia provavelmente atingirá com mais força.

Com base nessas premissas, o painel foi concebido para explorar o significado da informalidade e da precariedade em uma variedade de contextos (e países). Ele também examinou a relação entre a precariedade e as novas formas de empreendedorismo que surgiram como resultado da pandemia.

 

Contexto da conferência :

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Há muitos sinais de colapso, em todos os níveis das relações sociais, no mundo construído nos últimos dois séculos sob o calor da revolução industrial e revitalizado por sucessivas ondas de inovação sistêmica.

Agora, parece que algumas das forças motrizes por trás desse processo estão se deteriorando, não apenas do ponto de vista conjuntural, por meio dos episódios mais imediatos (guerras pandêmicas, conscientização global sobre o aumento do aquecimento global etc.), mas também em termos da sustentabilidade do desenvolvimento socioeconômico a longo prazo.

A demografia não ajuda. Estamos cientes de que o modelo de produção e consumo que estamos construindo com graus variados de sucesso, dependendo da região geográfica, e o estabilizador social e político do estado de bem-estar social estão passando por uma ruptura demográfica neste século. O aumento da longevidade está nos forçando a repensar esse modelo, que se baseia em uma economia em constante crescimento dentro de uma estrutura de mercado que leva a grandes desigualdades.

Apesar do fracasso do neoliberalismo em alcançar níveis mais altos de crescimento, prosperidade, equidade e liberdade, sua estranha morte-viva (Crouch 2011) continuou a impedir o surgimento de novos paradigmas socioeconômicos. Precisamos avançar com um novo paradigma social, econômico e político que ilumine novos caminhos para a organização produtiva e o modelo de consumo, e que nos permita manter um equilíbrio estável com o mundo natural em que vivemos.