No âmbito da Cúpula de Belém, que ocorreu nos dias 8 e 9 de agosto em Belém, Brasil, entrevista com Jhan-Carlo Espinoza sobre as questões climáticas na região da Bacia Amazônica, a situação atual e as perspectivas.

© Jhan Carlo Espinoza
Jhan-Carlo Espinoza é diretor de pesquisa do IRD e hidroclimatologista do Instituto de Geociências Ambientais (IGE) em Grenoble. Seu trabalho se concentra nas mudanças climáticas e seu impacto na Amazônia.
Qual foi a sua contribuição para os preparativos da Cúpula da Amazônia?
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) me convidou para participar dos Diálogos Amazônicos, organizados de 4 a 6 de agosto para preparar a cúpula. Participei das discussões como pesquisador do IRD, especialista na questão do clima na Amazônia e membro do Grupo Científico para a Amazônia (SPA), com o qual elaboramos um relatório de avaliação em 2021 sobre as mudanças ambientais na Amazônia e seu impacto no clima global. Durante esses dias, escrevemos uma carta para o Ministro do MCTI brasileiro.
Várias recomendações científicas foram feitas às autoridades em preparação para a cúpula, todas com foco na necessidade urgente de preservar a Amazônia. A Declaração de Manaus, apoiada pelo IRD e seus parceiros de longa data e assinada pouco antes da cúpula, também é um elemento importante na preparação das discussões.
Como a ciência pode ajudar os tomadores de decisões políticas a proteger a Amazônia?
Os cientistas desempenham um papel muito importante no apoio à tomada de decisões, principalmente fornecendo evidências da grave degradação que a Amazônia sofreu nos últimos anos. Esses dados são difíceis de obter devido à complexidade da bacia amazônica, que abrange nove países diferentes, cada um com protocolos e interesses às vezes divergentes.
Por outro lado, a ciência tem a capacidade de mostrar as consequências que o desmatamento pode ter, e pode propor ferramentas e soluções. Para mim, esses são os principais desafios que os cientistas enfrentam em relação às políticas públicas.
Para dar um exemplo, a comunidade científica está pedindo o fim das práticas comerciais que incentivam o desmatamento. Várias publicações científicas demonstraram que, se o desmatamento na Amazônia atingir o ponto de não retorno, seu ecossistema específico de floresta tropical será modificado e substituído por um ecossistema do tipo savana, mais bem adaptado a condições secas e quentes. Isso ocorrerá devido à mudança climática acelerada pelo desmatamento, que já está ocorrendo em algumas partes da floresta amazônica. Se essa mudança se generalizar, ela terá consequências globais, principalmente nos balanços hidrológicos, mas também nos balanços bioquímicos. O desmatamento na Amazônia terá consequências para toda a região tropical e, certamente, para todo o planeta.
Todas essas informações foram fornecidas às autoridades para ajudá-las a tomar decisões políticas.
"Para proteger a Amazônia, os cientistas estão destacando a necessidade de criar redes de pesquisa em todos os países amazônicos. É nesse ponto que o IRD desempenha um papel muito importante, pois vem trabalhando com seus parceiros científicos nos países da bacia amazônica há muito tempo por meio de programas de pesquisa". - Jhan-Carlo Espinoza
Em sua opinião, quais são as principais medidas tomadas nessa cúpula e como elas ajudarão a proteger a Amazônia?
As discussões levaram à assinatura da Declaração de Belém, que inclui a criação de um Grupo Técnico e Científico Intergovernamental para a Amazônia, baseado no modelo do GIEC?Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática. O grupo de trabalho será formado por um painel de cientistas que trabalhará em sinergia com os representantes dos países membros da OTCA?Organização do Tratado de Cooperação Amazônicae outras organizações, como o Painel Científico para a Amazônia (SPA) e a Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (UNSDSN), para reunir esforços e conhecimentos.
Esse painel, "IPCC-AM" ou "GIEC-AM", deveria contribuir para encontrar possíveis respostas para questões urgentes e destacar os mecanismos que ligam a mudança climática na Amazônia à mudança climática global.
Ele será uma excelente ferramenta para ligar a ciência aos decisores políticos.
Jhan-Carlo Espinoza foi um dos ganhadores do programa Make our planet great again, um projeto de pesquisa que identificou os impactos e as consequências do desmatamento na Amazônia e formulou projeções futuras para mostrar como o clima regional evoluirá se nada for feito para impedir o desmatamento.
O resultado deu conclusões bastante claras: uma forte diminuição das precipitações e, portanto, das disponibilidades hídricas, na Amazônia e na região andina, com a consequência de mudanças na circulação atmosférica à escala global.