O 20º aniversário do HYBAM foi comemorado na Universidade de Brasília por instituições parceiras de diferentes países durante três dias, de 26 a 28 de março. A conferência proporcionou uma oportunidade de apresentar as principais realizações e operações do observatório, mas também de olhar para o futuro por meio de workshops temáticos para incluir novas observações e parceiros.

Contexto

© Jean-Michel Martinez

Em um socioecossistema que é emblemático do meio ambiente e da luta contra sua degradação, através do qual 20% dos recursos hídricos continentais fluem para os oceanos, que representa 25% da biodiversidade mundial e abriga mais de 350 grupos étnicos, o IRD ajuda a monitorar os recursos hídricos desde 2003, usando uma abordagem regional através do serviço de observação HYBAM.

Os resultados da observação dos principais rios da Amazônia mostram um cenário alarmante. O ciclo hidrológico regional está fora de controle sob o impacto das mudanças globais e da destruição da floresta. Na estação de Manaus, onde o nível do rio Amazonas é registrado há 122 anos, quatro das cinco maiores enchentes e os dois períodos mais severos de águas baixas ocorreram nos últimos 15 anos. O que os hidrólogos chamam de "intensificação do regime hidrológico" resulta em inundações e períodos de estiagem excepcionais cada vez mais frequentes, alterando o equilíbrio dos ecossistemas e as condições de vida das populações locais.

O aumento das atividades de garimpo de ouro em toda a bacia amazônica está aumentando a erosão do solo e o transporte de sedimentos em proporções sem precedentes, com, por exemplo, um aumento de 250% no transporte de sedimentos na bacia do rio Maroni, na fronteira entre a Guiana Francesa e o Suriname, em 15 anos.

 

Serviço de Observação HYBAM

© Jean-Michel Martinez

O serviço de observação HYBAM se destaca por suas atividades de observação de longo prazo e pela disponibilidade ilimitada dos dados produzidos para toda a comunidade científica e técnica ("dados abertos").

Foram apresentados vários exemplos emblemáticos do uso dos dados do HYBAM, como o uso para calibrar um traçador para monitorar a migração de peixes amazônicos, que fazem as mais longas migrações de água doce do mundo, cobrindo mais de 6.000 quilômetros.

Outro caso emblemático é o uso de dados hidrológicos e geoquímicos adquiridos na Amazônia para entender melhor seu papel na dinâmica dos sargaços, cuja proliferação no Atlântico tropical se tornou um grande problema ambiental no Caribe e até no México.

 

Organização do seminário

Abertura da conferência

© Léa Servais

A conferência foi aberta por representantes da Agência Brasileira de Águas, do Serviço Geológico do Brasil, do Conselho Nacional de Secretários de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação da Federação Brasileira (CONSECTI) e da Embaixada da França no Brasil.

Durante a cerimônia de abertura, o reitor da Universidade Federal do Amazonas em Manaus (Sylvio Mário Puga Ferreira) e o vice-reitor da Universidade de Brasília (Enrique Huelva Unternbäumen) assinaram os novos acordos de cooperação entre o IRD e suas instituições participantes da rede HYBAM.

A Diretora Executiva da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), Vanessa Grazziotin, também esteve presente na sessão de abertura e explicou como os rios estão no centro da vida das sociedades amazônicas e a necessidade de produzir mais informações sobre o ciclo hidrológico amazônico e compartilhá-las entre os diferentes países da região. O banco de dados do HYBAM também foi enviado à OTCA para ser integrado ao Observatório Regional da Amazônia (ORA), para que as instituições possam unir esforços na divulgação e formação.

 

Temas abordados

  • Saúde

    As sessões plenárias destacaram o trabalho baseado em abordagens holísticas, como a "zona crítica" ou "One Health", que se baseiam no acoplamento de diferentes disciplinas para entender o ciclo da água ou a saúde das populações e sua evolução dentro da zona que abriga recursos sustentáveis para o meio ambiente e as sociedades. Laurence Maurice apresentou seu trabalho sobre a contaminação das comunidades amazônicas, especialmente por mercúrio, e sobre o compartilhamento de conhecimento científico com as populações locais para ajudá-las a reduzir o risco de exposição.

  • Inovação

    Outro aspecto importante do trabalho realizado pelo observatório é a promoção da inovação. Em um ambiente amazônico de difícil acesso e onde as condições operacionais são muitas vezes precárias, há necessidade de métodos novos e alternativos para registrar variáveis ambientais de interesse sem consumo excessivo de equipamentos ou viagens caras. Foi apresentado o projeto Eldorado, liderado pelo laboratório Ampère e financiado pela ação conjunta CNRS-IRD "Ciência econômica e inovação de baixa tecnologia" que envolve o desenvolvimento e a implantação na Amazônia de sensores eletroquímicos baseados em resíduos orgânicos para monitorar a poluição da água.

  • Sensoriamento remoto, recursos minerais e biodiversidade

    Outra sessão plenária foi dedicada ao sensoriamento remoto, cujo HYBAM acompanha e apoia o desenvolvimento para o monitoramento do ciclo da água desde sua criação. Foram apresentadas ferramentas de altimetria espacial e cor da água, juntamente com os resultados de aplicações na Amazônia.

    Para dar continuidade à sua missão de observar a região amazônica e garantir uma ciência sustentável, as equipes do observatório se propõem a se adaptar aos novos desafios ambientais, principalmente em relação à exploração excessiva de recursos minerais e à perda de biodiversidade. Foram realizados workshops sobre medição de mercúrio e DNA eletrônico para avaliar sua integração ao sistema de medição atual. Outro workshop tratou de ferramentas de modelagem digital e sensoriamento remoto e de como elas podem ser usadas para complementar e ampliar as observações in situ feitas pelo observatório.

Novas formações oferecidas

Novas iniciativas de formação foram propostas com diferentes fontes de financiamento para atingir diferentes públicos, desde o nível local com o FLUVIUS FSP (que começou em 2023 com a Universidade Federal da Amazônia) até os órgãos de gestão de bacias com o apoio do Fond Equipe France (FEF) Amazonia no Brasil e workshops nos países andinos com a OMM e os serviços hidrológicos nacionais (SENAMHI, INAMHI).

© Léa Servais

Em um contexto geral de degradação do ciclo da água na Amazônia, é fundamental continuar a documentar o ciclo da água para informar a população e fornecer aos pesquisadores e gestores dados precisos sobre o estado da Amazônia, cuja influência se estende muito além dos limites geográficos de sua bacia e alcança o Oceano Atlântico e o restante do subcontinente sul-americano.

Contato :

Jean-Michel Martinez, Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD UMR GET, França)

Diretor de Pesquisa em Hidrologia e Sensoriamento Remoto

Hybam