Resumo

Co-edição IRD e UBU editora, o livro Vozes Vegetais, diversidade, resistências e historias (2021) é um trabalho coletivo que se propõe a olhar o mundo de uma maneira diferente: escutando as plantas. Sob a direção de Marta Amoroso, Joana Cabral de Oliveira, Stelio Marras, Ana Gabriela Morim de Lima, Karen Shiratori e Laure Emperaire (IRD-UMR PALOC).

© IRD éditions/UBU editora

Mudar o olhar sobre o mundo vegetal

Tudo funciona como um sistema.

Sem dúvida, a ciência ocidental nos ensina isso, o conhecimento dessa densa rede que une, reúne e faz dialogar plantas, paisagens e sociedades e fundamenta como os povos indígenas e as populações tradicionais olham para o mundo. Mas podemos ir mais longe.

O livro Vozes Vegetais é o resultado da colaboração de pesquisadores, bem como líderes ameríndios, afro-descendentes ou agro-ecológicos, que propõe  olhar um mundo de outro jeito : ouvindo as plantas. A partir de várias abordagens cruzadas entre história, filosofia, arqueologia, antropologia e ecologia, os diferentes artigos dão outro status conceitual e político ao mundo vegetal, por muito relegado e subordinado a outras formas de vida ao longo da história do pensamento naturalista moderno, caracterizado por uma concepção das plantas, e mais amplamente da Natureza, como um recurso a ser explorado, concepção que encontra profunda ressonância na atual catástrofe ecológica. A produção de narrativas e reflexões alternativas é urgente e deve mobilizar referências culturais, técnicas, simbólicas ou cognitivas diferentes do modelo dominante, a fim de refletir sobre as possíveis, ou impossíveis, misturas. Em outras palavras, faz-se urgente descentralizar o nosso ponto de vista sobre a natureza.

As quatro etapas da viagem

O livro está dividido em quatro partes, abordando respectivamente (1) o lugar da vida vegetal abordado do ângulo da filosofia, da política e de uma antropologia enraizada no debate contemporâneo, (2) as contribuições de povos passados e presentes para a produção de uma diversidade de espécies e paisagens, (3) as relações homem-planta entre os Arawá do Purus com uma reflexão teórica e uma reavaliação do quadro conceitual antropológico utilizado e, finalmente, (4) o corpus mítico e ritual que exprime uma ligação íntima entre os ciclos de vida das pessoas, plantas, jardins e florestas e outras interações multi-específicas

Esta viagem em dezessete capítulos propõe assim novos caminhos onde o mundo vegetal não está sujeito à primazia humana e onde o humano não é pensado fora das plantas. O desafio de um livro como este, que reúne conhecimento, experiência e poesia, é repensar a "hierarquia do vivo" e, para usar a fórmula de Manuela Carneiro da Cunha "de invisíveis [tornar] as plantas visíveis, de insignificantes [tornà-las] significativas, de mudas [fazê-las] falantes, e até exigentes de diálogo".

 


O livro

Vozes Vegetais, diversidade, resistências et historia


Sob a direção de Marta Amoroso, Joana Cabral de Oliveira, Stelio Marras, Ana Gabriela Morim de Lima, Karen Shiratori e Laure Emperaire

IRD Éditions/UBU Editora - Coleção : D'Amérique latine – 2020

Encontrar o livro: Vozes Vegetais, 2020

O corpo editor

Marta Amoroso é professora no Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Centro de Estudos Ameríndios (CEstA). A sua investigação centra-se em saberes indígenas sobre paisagens e territorialidades na Amazônia, sobretudo com os Muras na bacia do Rio Madeira.

Joana Cabral de Oliveira é antropóloga, professora na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) no Centro de Investigação de Etnologia Ameríndia e coordenadora do Laboratório de Estudos Pós-Disciplinares (USP-Unicamp). Desde 2004, trabalha com os Wajãpi, particularmente sobre formas de conhecimento do ambiente vegetal, um campo que reúne abordagens locais e científicas.

Stelio Marras é professor e investigador em antropologia no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo. Os seus principais interesses de investigação são a antropologia da ciência e tecnologia, a antropologia da natureza e da modernidade, a teoria antropológica, as abordagens multiespecíficas e cosmopolíticas, e o Antropoceno.

Ana Gabriela Morim de Lima é pós-doutoranda no Departamento de Antropologia da USP e vinculada à UMR PALOC da França. As suas pesquisas centram-se na contribuição dos povos indígenas e comunidades locais no Brasil para a criação e conservação da agrobiodiversidade. A sua tese de doutoramento foi sobre o tratamento de plantas, especialmente cultivadas, pelos Krahó, no centro do Brasil.

Karen Shiratori é investigadora, pós-doutorada no Departamento de Antropologia da USP e investigadora no Centro de Estudos Ameríndios (CEstA). Fez parte do seu trabalho de pós-doutoramento no Laboratório de etnologia e sociologia comparativa (LESC) na Universidade de Paris-Nanterre (França). O seu trabalho mais recente diz respeito aos Jamamadi (língua Arawá) do Rio Purus e à importância que dão, no seu sistema de pensamento, ao mundo vegetal, uma singularidade compartilhada com outros povos de língua Arawá, mas rara na Amazônia.

Laure Emperaire é investigadora na IRD, ligada ao UMR PALOC (Património Local, Ambiente e Globalização). Botânica por formação, o seu trabalho, realizado no âmbito de uma parceria inicial com o Instituto Socioambiental e depois com a Unicamp, centra-se na agricultura tradicional na Amazônia, particularmente no Rio Negro, e no seu confronto com uma modernidade agrícola que se impõe do exterior. Parte da sua investigação centrou-se nas formas locais de conservação da agrobiodiversidade, em particular na circulação de plantas cultivadas.