Uma espécie de peixe desempenha um papel no armazenamento de carbono, uma descoberta com importantes implicações na regulação climática, de acordo com um estudo realizado no Atlântico tropical brasileiro pelo LMI Tapioca.

O peixe-víbora no Atlântico Tropical

No oceano, não é o tamanho que determina a utilidade ou a força do peixe, como confirmado pelos resultados de um estudo realizado por uma equipe de pesquisa internacional. De fato, o peixe víbora (Chauliodus sloani), vive principalmente no oceano profundo, a mais de 200 metros de profundidade, onde a luz começa gradualmente a desaparecer, e sobe à superfície só para se alimentar. É que, para superar as temperaturas muito baixas, enormes pressões e baixas concentrações alimentares, algumas espécies, incluindo o peixe víbora, desenvolveram um comportamento fascinante, tais como a migração vertical nycthemeral.

Esta migração é um movimento sincronizado de animais entre a superfície e as camadas profundas do oceano, e é realizada diariamente por trilhões de animais. O objetivo? Alimentar-se à noite perto da superfície e esconder-se dos predadores de dia nas profundezas, um equilíbrio subtil entre a sua necessidade de comer e a sua necessidade de evitar ser comido. À escala humana, isto é o equivalente a uma corrida de ida e volta de 10 km para o jantar, e ao dobro da velocidade de um corredor de maratona olímpico.

Mas esta longa e diária viagem não é a sua única proeza: ao ligar as camadas superiores e profundas do oceano, o peixe víbora, como outros animais, sequestra carbono nas profundezas oceânicas. Um resultado com grandes implicações para a regulação climática, considerando que, segundo o estudo, o peixe víbora é muito mais abundante do que o esperado no Atlântico tropical.

Um segundo resultado deste estudo é a diferença de comportamento desta espécie nas regiões do globo onde ela se encontra. A temperatura restringe a sua distribuição vertical, afetando diretamente os seus padrões de migração, dieta e contribuições aos ecossistemas nas diferentes regiões onde se encontra. De fato, na maioria das regiões tropicais, a espécie permanece em águas profundas durante toda a sua fase adulta, enquanto que nas regiões temperadas, os peixes víbora migram frequentemente para águas pouco profundas e interagem com os predadores nestas regiões. Esta diferença de comportamento entre regiões oceânicas tem implicações importantes para o transporte de carbono e, consequentemente, para a regulação do clima.

Finalmente, este estudo lembra que ainda sabemos pouco sobre o oceano profundo, enquanto a maioria das espécies já sofre os impactos das atividades humanas como a poluição plástica, e os impactos das alterações climáticas.

Um estudo do LMI Tapioca

LMI Tapioca (UFPE, UFRPE, IRD), logo

© IRD, UFPE, UFRPE

Este estudo foi conduzido por pesquisadoras e pesquisadores do Laboratório Mixto Internacional (LMI) TAPIOCA (Universidade Federal do Pernambuco, Universidade Federal Rural do Pernambuco, Instituto de Pesquisa pelo Desenvolvimento sustentável da França - IRD), que recolheram informações sem precedentes sobre a ecologia alimentar, habitat e comportamento migratório do peixe víbora, uma espécie emblemática das águas profundas, durante a campanha ABRAÇOS (Acoustics along the BRAzilian COaSt) nas costas do nordeste do Brasil.

A publicação

« Trophic ecology, habitat, and migratory behaviour of the viperfish Chauliodus sloani reveal a key mesopelagic player »
Eduardo, L.N., Lucena-Frédou, F., Mincarone, M.M. et al. Trophic ecology, habitat, and migratory behaviour of the viperfish Chauliodus sloani reveal a key mesopelagic player.
Sci Rep 10, 20996 (2020).

Link permanente para a publicação: https://doi.org/10.1038/s41598-020-77222-8

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Leandro Nolé Eduardo leandronole@hotmail.com

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