Por ocasião do Dia Mundial da Saúde, no dia 7 de abril, retrato de Raphael Saldanha, jovem Doutor, especialista em geografia da saúde.

Longe das aulas (chatas) de geografia no ensino médio, a reflexão sobre o espaço, suas concepções e representações, é uma chave para entender o mundo ao nosso redor. Para nos orientar sobre este tema fascinante, entrevista com Raphael Saldanha que acaba de concluir sua tese de doutorado em geografia sobre o uso de big data no campo da saúde pública com a Fiocruz no âmbito do Laboratório Mixto Internacional (LMI) Sentinela (IRD, Fiocruz, UnB). Foco em sua pesquisa, em sua vida diária, mas também nas surpresas do trabalho em campo.

Mission à l'IRD à Montpellier, et brouillon du flux d'informations sur tableau veleda, 10/2017

© Raphael Saldanha

Qual é seu percurso de pesquisa, e como você chegou à geografia da saúde?

Comecei com uma graduação em geografia, depois fiz o mestrado em saúde coletiva. Foi muito interessante porque, em geral, são médicos, nutricionistas e pessoas que trabalham na área da saúde que fazem este tipo de treinamento. Durante o mestrado, eu trabalhei na violência do trânsito nas estradas.
A geografia da saúde, que é meu tema de doutorado, veio mais tarde, por acaso, quando conheci Christovam [Barcellos, FIOCRUZ, coordenador do LMI]. Falando com ele, eu quis focalizar minha pesquisa de doutorado em Informação e Comunicação em Saúde. Me candidatei para o concurso de doutorado e fui selecionado. Durante o doutorado, trabalhei na ciência de dados aplicados à saúde pública. Mas, a cooperação com a IRD não se deu desde o início; um dia Christovam me disse: "Ei, Raphael, você fala francês?" Eu respondi que não, eu não falo francês. "Ah, vamos ver como podemos fazer então, porque há este pesquisador, seria interessante para você conhecer..." e foi lá que conheci Emmanuel [Roux, IRD, UMR ESPACE-DEV, coordenador do LMI].

O que a geografia traz para a saúde pública?

Muitas vezes a gente esta visão da geografia como disciplina, na escola, que realmente não sabemos para que serve. Mas a geografia é algo mais, ela responde aos problemas atuais. No caso da saúde, que é o que eu conheço melhor, ela nos permite compreender um problema complexo de uma maneira mais completa. Porque a saúde não é apenas a ausência de doenças, ela também inclui toda a relação entre os seres humanos e seu meio ambiente. Por exemplo, o uso do solo e a urbanização são dinâmicas que modificam o meio ambiente e terão consequências sobre a saúde. A geografia nos permite compreender o problema de uma forma sistêmica.

Présentation des données de la recherche aux décideurs de Cayenne, un exemple de coopération science-sociéte, 09/2018

© Raphael Saldanha

Sobre o que era sua tese?

Sobre a ciência dos dados aplicada à saúde pública. No que diz respeito aos dados no campo da saúde, deve ser notado que a produção de dados já é antiga. No século XVIII, surgiu a epidemiologia e, até o século XX, os avanços tecnológicos permitiram grandes avanços neste campo. Hoje, estamos diante do big data: grandes quantidades de dados e dados complexos que representam novos desafios para sua análise. Costumava-se pensar assim: "mais dados para analisar, computador maior e mais potente", mas isto já não é válido. A academia entende que deve analisar o big data com outros métodos.

Este é o objetivo da minha tese: tentar ligar a aplicação dos métodos de análise de big data à saúde pública. Trabalhei em particular na área transfronteiriça entre a Guiana Francesa e o estado de Macapa (Brasil), sobre a malária. Estar em uma área transfronteiriça é em si um desafio, porque os dados são diferentes de ambos os lados da fronteira. Por exemplo, a definição do que constitui um caso de malária varia de um lado para o outro. Uma primeira contribuição foi tentar harmonizar esses dados. Outra contribuição foi na apresentação dos resultados: geralmente, é principalmente material escrito que é escolhido para a apresentação dos resultados, páginas e páginas que não são necessariamente lidas... escolhemos utilizar meios diferentes, mais "visuais", como mapas ou infografias.

Como é sua vida diária como pesquisador?

Bem... há uma diferença entre antes e depois da pandemia!

Há muito tempo gasto no computador, lendo artigos, pesquisas e processamento de dados... Também temos uma parte de campo. Como parte de minha tese, viajei para a fronteira Macapa-Guyane para entender como funciona do lado francês. Isto foi fundamental para entender o contexto no qual os dados de saúde são produzidos, mas também para encontrar diretamente com os agentes de saúde e saber o que eles realmente precisam. Porque muitas vezes, pensamos que a ciência ordena: "Você tem que saber isto, e fazer esta operação desta maneira! " e a realidade do campo está tão distante que é impraticável.

Penso que o contato humano, o encontro com as pessoas no terreno, nos ensina muito. O relacionamento direto é uma vantagem real, e todos têm algo a ganhar: tomamos dados e, em troca, devolvemos nossos resultados. Outro ponto que acredito ser crucial é a aliança entre as instituições [dentro do LMI], que nos permite ter um impacto maior no mundo científico, mas também nos tomadores de decisão, e, portanto, tornar a ciência realmente útil para a sociedade.

 

Agradecemos a Raphael pelo tempo que dedicou para a gente!

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