O IRD reuniu seus parceiros acadêmicos e não acadêmicos em um workshop regional amazônico organizado nos dias 3, 4 e 5 de julho na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em Manaus.
Os objetivos principais eram:
- Definir uma estratégia científica para o Instituto e os seus parceiros, baseada nas expectativas dos parceiros e dos governos e discutida com alguns financiadores.
- Elaborar uma "Declaração de Manaus para a pesquisa compartilhada na Amazônia" em conjunto com a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que poderá ser apresentada na cúpula dos chefes de Estado da Amazônia prevista para o início de agosto em Belém
Os debates ocorreram em português, espanhol e francês, com tradução simultânea.
© Léa Servais
O evento iniciou com um coquetel de recepção em torno da exposição "As florestas tropicais úmidas”, produzida pelo IRD e pelo CIRAD.
Durante esses dois dias, científicos, instituições, ONG, se reuniram em mesas redondas para falar dos "desafios científicos" para os quais o IRD pode contribuir transferindo experiências, conhecimentos e competências para os países da região amazônica.
Isso permitiu dar uma visão regional sobre as questões abordadas em cada mesa e sobre os desafios a enfrentar nestas áreas.
Os vários temas abordados foram:
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Mesa-redonda 1 : Biodiversidade e gestão sustentável e equitativa dos recursos naturais
Apresentações sobre as questões envolvidas na medição da diversidade dos recursos florestais terrestres e dos recursos pesqueiros, com foco, em ambos os casos, na medição do DNA ambiental. A mesa redonda se concentrou em benefícios compartilhados e nas desigualdades.
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Mesa redonda 2: Georrecursos e One health
Desafios do garimpo de ouro e suas consequências sociais e econômicas para o meio ambiente e a saúde. Apresentações sobre o rastreamento de mercúrio, os processos de biotransformação e bioacumulação, o impacto da contaminação por metais na saúde e o conceito de "Uma Saúde" e o programa PREZODE.
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Mesa redonda 3: Cidades sustentáveis e desenvolvimento territorial
Fatores que influenciam a ocupação da Amazônia e o desmatamento, bem como a urbanização da Amazônia e as questões de sustentabilidade nas cidades. Foco nos picos de calor nas cidades amazônicas, os avanços no monitoramento do desmatamento por satélite e as questões de desenvolvimento territorial e fundiário.
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Mesa redonda 4: Sistemas alimentares e Solos e Terras
Patrimônio de conhecimentos locais, tanto no âmbito da conservação da agrobiodiversidade, quanto nos sistemas de cultivo, cozinha e alimentação que formam o sistema alimentar, baseado na gestão sustentável do solo e da terra. Apresentações sobre o patrimônio dos cultivos alimentares, na piscicultura e nos sistemas radiculares da floresta (simbiosis micorrícicas).
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Mesa redonda 5: Clima, água, o gradiente terra-mar
Máquina climática, seus efeitos descontrolados e os riscos que isso está causando na Amazônia, suas repercussões em escala regional e global, mas também o ciclo da água e os avanços nas medições espaciais de seus vários compartimentos e, finalmente, o continuum entre o ecossistema amazônico, o sistema costeiro, a plataforma continental oposta ao estuário e o oceano global.
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Durante esse Workshop, Gilles Pécassou, Vice-Presidente do IRD e Sylvio Mário Puga Fereira, Reitor da UFAM assinaram um Protocolo de Intenções. O IRD e a UFAM, tendo preocupações comuns, notadamente no que se refere à pesquisa para o desenvolvimento das áreas das ciências da vida, humanas e exatas, estão convencidos que a pesquisa nestas áreas deve ser reforçada por ações de estudo e formação conduzidas em colaboração.
Esse protocolo de intenções define os termos da cooperação científica e técnica entre o IRD e a UFAM.
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Também uma Declaração de Intenção IRD-OTCA foi assinada entre Gilles Pécassou e Claudia Colomo, Consultora Técnica da OTCA para uma cooperação reforçada no âmbito do Observatório regional da Amazônia.

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O Workshop Amazônia terminou por um passeio de barco. Os participantes navegaram até Paricatuba para visitar as diferentes estações da CPRM ?Companhia de Pesquisa de Recursos Mineraisno Rio Negro, e fazer algumas medições.
Mas tarde, foram para o "encontro das águas" entre o Rio Negro e o Rio Solimões.
Esses três dias foram uma oportunidade de reunir cientistas, organizações e instituições dos países da região amazônica para compartilhar seus conhecimentos sobre a preservação da Amazônia, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo.
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Contexto : A Amazônia no cruzamento de questões globais
A Amazônia está no centro de uma série de questões importantes. Em primeiro lugar, em termos de clima: há muito tempo os cientistas discutem para saber se a Amazônia, em todas as suas vertentes - floresta, savana, agricultura, que ocupam áreas cujas proporções relativas mudam constantemente, mas também grandes áreas de inundação, sujeitas a gigantescas florações de algas, cobertas ou não por vegetação herbácea temporária, florestas inundadas, locais de intensa produtividade, áreas de pastagens nos espaços liberados pelo recuo da inundação - são uma fonte ou um sumidouro de carbono. A geografia inconstante desse território, erroneamente chamado de pulmão verde do planeta, não facilita as estimativas.
O debate agora foi ofuscado pela descoberta, há alguns anos, do fenômeno dos rios voadores na Amazônia, criados pela evapotranspiração das árvores e que fornecem chuva não apenas para a floresta em si, mas também para a área mais produtiva da América do Sul, entre os Andes e São Paulo, de leste a oeste, e de Cuiabá a Buenos Aires, de norte a sul. Pesquisas demonstraram que esse fenômeno é responsável pelo resfriamento das camadas inferiores da atmosfera, o que ajuda a equilibrar o clima global. O desmatamento está comprometendo esse frágil equilíbrio, e seus efeitos já estão sendo sentidos no clima regional, podendo levar à extinção da floresta se um processo de ponto de inflexão for implementado, um ponto de inflexão cujo alguns autores acreditam já ter sido atingido.
Essa emergência climática que todos conhecemos não deve apagar as muitas outras questões que estão em jogo na bacia amazônica: uma terra de migrações sucessivas, incentivadas pelos poderes dos Estados e facilitadas pela criação de grandes infraestruturas rodoviárias e portuárias, com o objetivo de colonizar e desenvolver essas áreas "virgens", às custas das populações indígenas e tambem das populações que se tornaram locais, cuja sobrevivência está ameaçada pelo avanço do agronegócio. No entanto, essas populações desenvolveram uma cultura em equilíbrio com a floresta, às vezes reconhecida como patrimônio imaterial, e que oferece soluções para o desenvolvimento sustentável. Ela precisa de apoio político e financeiro, além de ferramentas para definir e implementar métodos de gestão integrada e sustentável dos recursos naturais.
Essas considerações também não devem ocultar o fato de que a maioria da população amazônica agora é urbana, o que traz seu próprio conjunto de desafios de sustentabilidade; que a Amazônia é uma gigantesca reserva de água doce, tanto superficial quanto subterrânea, sujeita a um aumento na frequência de eventos extremos, secas que duram vários anos seguidos, inundações catastróficas, poluição em grande parte devido à mineração, mas também ao desmatamento, e grandes perturbações causadas pela construção de barragens cuja produção hidrelétrica não beneficia os habitantes locais. Também tem o caso da perda de biodiversidade causada pelo desmatamento que é uma questão ambiental e metodológica, com a necessidade de quantificar e localizar essas perdas (DNA ambiental), bem como uma questão de governança internacional, nacional e local, levando a uma grande reflexão sobre questões jurídicas e o compartilhamento equitativo de benefícios.